O conto a seguir está intimamente relacionado a outro já postado aqui no blog, chamado As 2 mil vidas de Ricardo Slayer. Acabou criando contos sobre esse peculiar personagem quando deixo os pensamentos vagando.
Leia também: As 2 mil vidas de Ricardo Slayer
O
Estranho Prólogo de Ricardo Slayer
Ricardo
Slayer sempre procurou ser um cara discreto. Tão discreto que sua
mãe só percebeu sua existência quando o médico, com ar de
assombro, disse-lhe que estava entrando em trabalho de parto.
“Mas eu
não estou grávida!”
“Grávida
ou não, senhora, seu filho está querendo vir ao mundo!”
Essa foi
apenas a primeira estranheza da vida que tentava ser discreta de
Ricardo Slayer.
Depois
disso, quando ele tinha apenas seis meses de idade, seus pais se
viram diante de uma situação que nunca tinham visto igual: seu
pequeno filho parecia uma pessoa completamente diferente a cada dia.
Na segunda amanhecia como um bebe chorão, na terça mal acordava
para comer, na quarta era curioso e tentava salvar do berço a cada
quinze minutos, na quinta era calmo e nos outros dias essa sequência
se alternava de maneira aleatória.
Ricardo
foi benzido por um ancião durante vinte dias, até que finalmente
sua personalidade pareceu tornar-se única.
Depois de
mais esse acontecimento estranho Ricardo não cresceu como um garoto
problemático, como parentes maudosos sugeriram que aconteceria, mas
pelo contrário: Ricardo demonstrava múltiplos talentos que iam
desde a matemática até o esporte, passando pela música e pintura.
Seus colegas de aula pediam ajuda antes da prova de física, química,
história, filosofia e desenho técnico.
Graças
ao seu envolvimento com projetos de pesquisa na área de engenharia
ele acabou sendo conhecido em todo o meio acadêmico brasileiro pela
alcunha de “garoto do futuro” ganhando diversos prêmios
destinados a incentivas jovens talentos.
O único
problema que Ricardo causou durante a juventude foi num dia de outono
quando ele quase enviou um avião com passageiros na direção da
sede do governo, tudo isso usando o computador da escola durante a
aula de informática. O mais estranho deste episódio é que Ricardo
não era capaz de recordar de nada que acontecera naquele dia e os
psicólogos não conseguiram encontrar nada no rapaz que pudesse
indicar que ele tivesse algum desequilíbrio ainda por ser revelado.
Quando o
vestibular veio e Ricardo optou por continuar suas pesquisas a nível
acadêmico superior músicos, atletas e até artistas que o conheciam
ficaram desapontados por perder o talento extraordinário do rapaz
para estas áreas. No primeiro ano de faculdade Ricardo ainda
conseguiu manter suas atividades extras sem deixar cair seu
rendimento, mas isso acabou não sendo mais possível depois.
Com
apenas vinte anos e uma parede que não tinha mais espaço para
tantos certificados de premiações a nível latino-americano na
engenharia Ricardo percebeu que estava farto daquela vida onde não
havia espaço na semana para praticar suas aulas de natação ou
mandarim e decidiu-se: largou a faculdade e foi morar do outro lado
do país, isso tudo com o dinheiro que economizara de todas a
premiações que já havia ganho.
E assim
Ricardo Slayer foi trabalhar como designer de uma editora de revistas
quinzenais dos mais diversos ramos, em uma metrópole do outro lado
do país. Ele conseguiu de volta sua vida discreta enquanto fazia a
diagramação de revistas de fotografia ou moda. Ele tinha esperanças
de com essa tranquilidade pudesse enfim encontrar uma namorada
carinhosa que iria completar sua existência.
Só que
ele não sabia é que sua maior estranheza e aventura só iria
realmente começar numa tarde sábado, quando ele dormisse sobre a
sombra de uma bela árvore no parque central da metrópole.
Um comentário:
Adorei, Mazaki-san, e li o outro também. Ambos muito bons, gostei do Ricardo, traga mais sobre ele quando surgir a ideia adequada! Desculpe só ver a atualização agora, mas como prometido, deixo aqui minha sincera admiração pelo seu texto, é sempre bom ler algo de sua autoria.
Até logo, espero!
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